
Como trabalhar a frustração em crianças: estratégias para pais acolhedores
Lidar com a frustração é um desafio para muitas crianças, e também para quem cuida delas. Entender a importância de permitir que nossos pequenos vivenciem emoções difíceis é o primeiro passo para ajudá-los a crescer com inteligência emocional.
Neste texto, vamos mostrar como acolher, nomear sentimentos e usar estratégias simples no dia a dia para que seu filho aprenda a lidar com os “nãos” e os contratempos de forma saudável e acolhedora.
Boa leitura!
Por que é importante trabalhar a frustração nas crianças?
A frustração é uma emoção super comum e faz parte do crescimento dos nossos pequenos. Quando as crianças não conseguem o que querem, ou enfrentam um “não”, elas sentem esse desconforto que pode parecer difícil, mas é totalmente natural.
Isso porque a frustração ajuda a criança a entender que nem tudo vai sair do jeitinho que ela deseja, e essa vivência é essencial para o desenvolvimento emocional saudável. Desde cedo, os pequenos vão encontrando limitações e obstáculos, e é aí que a frustração aparece.
Ela é uma resposta normal quando algo não sai conforme a expectativa. A boa notícia é que esse sentimento, por mais desconfortável que seja, é um convite para o aprendizado.
Quando a criança passa por esses momentos, ela começa a desenvolver habilidades super importantes, como a resiliência, que é a capacidade de superar desafios e tentar de novo, o autocontrole para lidar com as emoções e até a empatia para entender os sentimentos dos outros.
Se a frustração não for bem trabalhada, pode gerar comportamentos que atrapalham o dia a dia da criança. Ela pode ficar mais irritada, ansiosa ou até desmotivada para aprender e tentar coisas novas. Isso porque, sem apoio e compreensão, a sensação de frustração pode virar um bloqueio e prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo.
Por isso, ajudar a criança a entender e lidar com esses sentimentos é fundamental para que ela cresça confiante, equilibrada e preparada para enfrentar os desafios da vida, dentro e fora de casa.
Permitir que a criança sinta emoções difíceis
É muito comum quando vemos uma criança passando por um momento difícil querer protegê-la e evitar que ela sinta aquele desconforto emocional. Mas, na verdade, deixar que ela experimente essas emoções faz toda a diferença no desenvolvimento dela.
Fugir do que é desconfortável pode até parecer uma solução rápida, mas acaba impedindo que a criança aprenda a lidar com os desafios e sentimentos que fazem parte da vida.
Quando pais e cuidadores acolhem a criança mesmo nas emoções que acabam incomodando, como tristeza, raiva ou frustração, eles estão dizendo que tudo bem sentir isso. Essa aceitação mostra para o pequeno que ele não está sozinho, e que esses sentimentos não são perigosos nem ruins, só fazem parte do aprendizado emocional.
Evitar o desconforto pode tornar esses sentimentos maiores e mais difíceis de entender com o tempo, enquanto enfrentar e acolher ajuda a criança a se sentir segura para explorar e compreender o que vive.
Permitir que a criança viva cada emoção traz um benefício enorme: o fortalecimento da resiliência. A resiliência é aquela força interna que ajuda a gente a superar momentos difíceis, aprender com eles e seguir em frente. Quanto mais a criança pratica viver, nomear e expressar seus sentimentos, melhor ela fica em controlar a ansiedade, a raiva e o desânimo.
Estratégias para acolher os sentimentos da criança

Acolher os sentimentos da criança é um passo fundamental para que ela se sinta segura e compreendida. Quando conseguimos criar um espaço de escuta e respeito, ajudamos nossos pequenos a expressar o que sentem sem medo de serem julgados.
Além disso, isso fortalece o vínculo entre pais e filhos, deixando a relação ainda mais cheia de amor e confiança. Escutar de verdade, com atenção, é um presente que damos à criança. Isso significa parar o que estamos fazendo, olhar nos olhos dela e mostrar interesse pelo que está dizendo.
É muito importante validar os sentimentos, ou seja, reconhecer que ela está sentindo algo válido, mesmo que não concordemos com a maneira como ela expressa. Frases como “Eu entendo que você está chateado” ou “Sei que não foi fácil pra você” ajudam a criança a se sentir aceita e acolhida, permitindo que ela processe as emoções com mais calma e clareza.
A empatia é a chave para se conectar com o mundo emocional da criança. Quando tentamos realmente entender o que ela está sentindo, conseguimos responder com mais carinho e paciência. Isso mostra para o pequeno que ele não está sozinho e que seus sentimentos importam.
Nomear sentimentos juntos: o poder das palavras
Ajudar a criança a identificar e nomear o que está sentindo é um passo essencial para que ela entenda melhor suas emoções e consiga lidar com elas de maneira saudável. As palavras têm um poder gigante para dar forma ao que às vezes parece confuso ou até assustador dentro da gente.
Quando a criança aprende esse vocabulário emocional, ela ganha uma “bússola” para navegar pelas próprias sensações, o que facilita o controle da frustração e outras emoções difíceis. Existem várias brincadeiras e atividades simples que podem tornar esse processo uma experiência divertida e significativa, como:
- Jogo das emoções: Escolha algumas emoções comuns, como alegria, tristeza, raiva, medo e surpresa. Use folhas de papel e lápis de cor para que a criança desenhe como imagina cada emoção. Se estiver na fase da escrita, pode até escrever o nome do sentimento ao lado do desenho. Além de completar as imagens, vocês podem conversar sobre situações que despertam essas emoções.
- Pote das emoções: Um pote transparente com etiquetas que representam diferentes sentimentos. A criança coloca dentro dele um objeto (como bolinhas de lã colorida) que corresponde ao que está sentindo naquele momento. Essa atividade ajuda a reconhecer o que se passa por dentro e facilita a conversa.
- Reconhecer expressões faciais: Mostre cartas ou fotos com diferentes expressões e peça para a criança dizer qual emoção está sendo mostrada. Outra ideia é usar o espelho para fazer caretas juntas imitando emoções, o que ajuda a associar o rosto aos sentimentos.
- Histórias e dramatizações: Contar histórias com personagens passando por situações emocionais permite que a criança discuta o que eles sentem. Dramatizar essas emoções, fazendo caretas ou pequenos papéis, ajuda a expressar e compreender melhor o que está dentro dela.
Quando a criança tem mais palavras para nomear seus sentimentos, ela se sente mais segura para expressá-los. Isso reduz aquele “nó” interno que a frustração pode causar, evitando explosões de raiva ou tristeza que às vezes parecem grandes demais para ela.
O vocabulário emocional ajuda a criança a reconhecer quando algo a está incomodando, além de facilitar o pedido de ajuda ou a busca por soluções. Com esse repertório de sentimentos bem compreendido, ela cresce mais confiante, aprende a controlar suas reações e a entender melhor as pessoas ao redor, estimulando a empatia.
Estimular a inteligência emocional no dia a dia
Estimular a inteligência emocional das crianças não precisa ser complicado. Com pequenas ações diárias, é possível ajudar seu filho a reconhecer o que sente, falar sobre isso e encontrar maneiras positivas de lidar com os desafios. A ideia é transformar o cotidiano em um espaço seguro para que ele pratique essas habilidades tão importantes para a vida.
Que tal alguns exercícios fáceis para o dia a dia? Por exemplo:
- O termômetro das emoções: Pergunte para a criança como ela está se sentindo em uma escala de 0 a 10, onde zero é tranquilo e dez é muito agitado ou nervoso. Essa simples pergunta ajuda a criança a identificar a intensidade do que está sentindo.
- Diário das emoções: Incentive seu filho a desenhar ou colocar em palavras, no final do dia, as emoções que viveu. Pode ser um desenho simples de carinhas felizes, tristes ou zangadas, ou mesmo contar uma história sobre os sentimentos.
- Respirações para acalmar: Ensine técnicas de respiração profunda para controlar o nervosismo ou a raiva. Explicar que respirar devagar ajuda o corpo a se sentir melhor faz com que a criança tenha um recurso fácil para usar quando a frustração aparecer.
- Conversas sobre sentimentos: Reserve momentos tranquilos para perguntar como foi o dia, o que deixou feliz ou chateado. Isso reforça que expressar o que sente é sempre bem vindo.
Encorajar a solução de problemas e o pensamento positivo
Além de reconhecer as emoções, é essencial ensinar a criança a enfrentar os obstáculos com criatividade e otimismo. Você pode:
- Perguntar “O que podemos fazer?” sempre que surgir um problema, incentivando seu filho a pensar em soluções possíveis ao invés de se prender só ao problema.
- Celebrar pequenos sucessos: Valorize cada esforço da criança para resolver um desafio, mesmo que não consiga na primeira tentativa. Isso aumenta a motivação e a confiança.
- Modelar o pensamento positivo: Conte para seu filho momentos em que você enfrentou uma dificuldade e conseguiu dar a volta por cima. Mostrar que errar é normal e que sempre dá para aprender e melhorar ajuda a criar uma mentalidade mais leve.
Veja também: Conversas que os pais não têm com os filhos
Como lidar com os “nãos” e contratempos do cotidiano
Saber lidar com os famosos “nãos” e os pequenos contratempos faz parte do aprendizado das crianças — e, claro, dos pais também! Nessas horas, tanto os filhos quanto os adultos precisam de reações cheias de calma e carinho para transformar o desafio em uma oportunidade de crescimento.
Quando a criança recebe um “não” ou enfrenta uma situação chata, é normal que surjam sentimentos fortes, como raiva ou tristeza. O segredo está em responder de forma tranquila e acolhedora. Para os pais, isso significa respirar fundo, mostrar empatia e ajudar o filho a colocar em palavras o que está sentindo.
Frases como “Eu sei que você está chateado, e tudo bem se sentir assim” ajudam muito. Já para a criança, aprender a reconhecer essas emoções sem medo, e perceber que elas são passageiras, é um passo gigante para desenvolver o autocontrole e a paciência.
Esperar nem sempre é fácil para os pequenos, mas é uma habilidade essencial. Você pode transformar esse momento em algo positivo, explicando com calma por que é preciso aguardar — seja para pegar um brinquedo, ir passear ou até resolver um conflito.
Além disso, a negociação é uma ferramenta poderosa: ensinar seu filho a expressar o que quer de maneira respeitosa e a ouvir também o outro lado abre espaço para acordos e soluções criativas.
Por fim, ajudar a criança a encontrar alternativas quando o caminho que ela queria não é possível é fundamental. Perguntas como “O que mais podemos fazer?” ou “Que outra ideia você tem?” estimulam o pensamento flexível e mostram que, mesmo quando algo não dá certo, sempre há um jeito novo de tentar.
Quando buscar ajuda profissional
Às vezes, a frustração pode ser mais do que um desafio passageiro para as crianças. É importante ficar atento a alguns sinais que mostram que esse sentimento pode estar afetando o bem-estar delas de forma mais profunda.
Se você perceber que seu filho está tendo muita dificuldade para lidar com a frustração, não hesite em procurar ajuda profissional. Não é sinal de fracasso, mas um cuidado essencial para o desenvolvimento saudável dele.
Alguns comportamentos que merecem atenção são mudanças frequentes de humor, irritabilidade excessiva, explosões de raiva, ansiedade ou tristeza que parecem durar bastante tempo.
Se a criança começa a se isolar, evita os amigos, demonstra dificuldade para dormir, perdeu o interesse em atividades que gostava ou tem um desempenho escolar afetado, esses podem ser indícios importantes.
Além disso, desistir fácil das tarefas, mostrar insegurança constante ou comportamentos agressivos são sinais de que a frustração pode estar atrapalhando sua saúde emocional e social.
Felizmente, existem profissionais especializados, como psicólogos infantis, que podem ajudar seu filho a entender e administrar essas emoções difíceis. A terapia oferece um espaço seguro para que a criança expresse seus sentimentos, desenvolva resiliência e aprenda estratégias eficazes de enfrentamento.
Para os pais, aconselhamento e orientação parental também são valiosos, pois ajudam a fortalecer o papel de suporte e a criar um ambiente emocionalmente saudável em casa. Muitos centros de saúde, escolas e clínicas oferecem esses serviços, e buscar o apoio certo pode fazer toda a diferença para o equilíbrio emocional da família.
Conclusão
Sentir frustração faz parte da vida das crianças e dos adultos também! Permitir que os pequenos vivenciem esses momentos difíceis, acolhendo e nomeando seus sentimentos, é um gesto cheio de amor que ajuda no crescimento emocional deles.
Lembre-se: não precisamos evitar as emoções desconfortáveis, mas sim acompanhar nossos filhos com calma, empatia e paciência. Assim, ensinamos que os “nãos” e contratempos são oportunidades para aprender a lidar com desafios, construir resiliência e fortalecer a inteligência emocional.
Com as estratégias simples que mostramos aqui, como escutar de verdade, validar o que a criança sente e usar atividades para dar nome às emoções, você estará ajudando seu filho a crescer mais confiante, equilibrado e preparado para os altos e baixos da vida.
Cuidar da saúde emocional desde cedo é um presente que dura para sempre. E, claro, quando precisar, não hesite em buscar ajuda profissional para garantir que seu pequeno tenha todo o suporte necessário.
As dicas não substituem uma consulta médica. Procure um profissional de saúde especializado para receber orientações individualizadas.